terça-feira, 30 de julho de 2013

Em último dia no Brasil, papa ataca ideologias e prega renovação na igrej

Em encontro com bispos latino-americanos, o papa Francisco criticou a "ideologização" da igreja na por grupos que incluem desde a "categorização marxista" até o "restauracionismo" de "formas superadas". Para ele, é preciso uma igreja voltada "às questões existenciais do homem de hoje".
"Toda projeção utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito bom. Deus é real e se manifesta no 'hoje'", afirmou neste domingo (28).

Como havia ocorrido na véspera no encontro com os bispos brasileiros, Francisco usou o discurso para dar a sua visão da igreja para o que considera dois grandes desafios, a "renovação interna da igreja e o diálogo com o mundo atual".
No trecho mais forte do discurso, o líder católico afirmou que "determinadas propostas" ideológicas trazem o risco de "fazer fracassar" o trabalho da igreja. Uma delas, disse, é o "reducionismo socializante", em alusão à Teologia da Libertação, que prega uma igreja mais social e próxima de organizações de esquerda. Foi popular sobretudo nos anos 1970 e 1980.
"O reducionismo socializante (), em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até à categorização marxista."


A crítica é uma ducha de água fria aos adeptos da Teologia da Libertação, que, depois de anos difíceis sob João Paulo 2° e Bento 16, viam na proposta de "uma igreja pobre, para os pobres" de Francisco um sinal de alinhamento do primeiro papa latino-americano.
 Por outro lado, procurando uma posição equilibrada, Francisco foi duro também com a "direita" da igreja.
O pontífice mencionou "grupos de elites", com "uma proposta de espiritualidade superior" e que se consideram "católicos iluminados". Criticou ainda "pequenos grupos" que buscam "recuperar o passado perdido", com foco na "disciplina e formas superadas".
Francisco atacou o "funcionalismo", que deixa a igreja parecida a "modalidades empresariais" e promove "uma espécie de teologia da prosperidade", numa aparente referência ao movimento carismático, que gerou comunidades e têm práticas semelhantes à de igrejas pentecostais.
Mais do que reformas estruturais, o papa propôs principalmente uma "mudança de atitudes" do clérigo latino-americano. Como anteontem, exortou os bispos a se questionarem: "Superamos a tentação de tratar de forma reativa os problemas complexos que surgem? Criamos um hábito proativo?"
Com relação ao "diálogo com o mundo", Francisco disse que a igreja deve abandonar uma "cultura de base rural", estática, para usar uma linguagem que responda "às questões atuais do homem de hoje". "Por exemplo, em uma mesma cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram 'diferentes cidades'."
O papa enfatizou ainda a necessidade de incentivar uma maior participação dos leigos na vida da igreja, investindo em sua formação.
Em vários momentos, Francisco mencionou o Documento de Aparecida, aprovado em 2007 pelos bispos latino-americanos e do qual foi relator, que dá diretrizes para igreja da região nesta "mudança de tempo".
Papa Francisco na Base Aérea do Galeão se prepara para deixar o Brasil após sua participação na jornada Mundial da Juventude - Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Jornal Folha de S. Paulo

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