Em
encontro com bispos latino-americanos, o papa Francisco criticou a
"ideologização" da igreja na por grupos que incluem desde a
"categorização marxista" até o "restauracionismo" de "formas superadas".
Para ele, é preciso uma igreja voltada "às questões existenciais do
homem de hoje".
"Toda
projeção utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado)
não é do espírito bom. Deus é real e se manifesta no 'hoje'", afirmou
neste domingo (28).
Como
havia ocorrido na véspera no encontro com os bispos brasileiros,
Francisco usou o discurso para dar a sua visão da igreja para o que
considera dois grandes desafios, a "renovação interna da igreja e o
diálogo com o mundo atual".
No
trecho mais forte do discurso, o líder católico afirmou que
"determinadas propostas" ideológicas trazem o risco de "fazer fracassar"
o trabalho da igreja. Uma delas, disse, é o "reducionismo
socializante", em alusão à Teologia da Libertação, que prega uma igreja
mais social e próxima de organizações de esquerda. Foi popular sobretudo
nos anos 1970 e 1980.
"O
reducionismo socializante (), em alguns momentos, foi muito forte.
Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de
acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o
liberalismo de mercado até à categorização marxista."
A crítica é uma ducha de água fria aos adeptos da Teologia da Libertação, que, depois de anos difíceis sob João Paulo 2° e Bento 16, viam na proposta de "uma igreja pobre, para os pobres" de Francisco um sinal de alinhamento do primeiro papa latino-americano.
A crítica é uma ducha de água fria aos adeptos da Teologia da Libertação, que, depois de anos difíceis sob João Paulo 2° e Bento 16, viam na proposta de "uma igreja pobre, para os pobres" de Francisco um sinal de alinhamento do primeiro papa latino-americano.
Por outro lado, procurando uma posição equilibrada, Francisco foi duro também com a "direita" da igreja.
O
pontífice mencionou "grupos de elites", com "uma proposta de
espiritualidade superior" e que se consideram "católicos iluminados".
Criticou ainda "pequenos grupos" que buscam "recuperar o passado
perdido", com foco na "disciplina e formas superadas".
Francisco
atacou o "funcionalismo", que deixa a igreja parecida a "modalidades
empresariais" e promove "uma espécie de teologia da prosperidade", numa
aparente referência ao movimento carismático, que gerou comunidades e
têm práticas semelhantes à de igrejas pentecostais.
Mais
do que reformas estruturais, o papa propôs principalmente uma "mudança
de atitudes" do clérigo latino-americano. Como anteontem, exortou os
bispos a se questionarem: "Superamos a tentação de tratar de forma
reativa os problemas complexos que surgem? Criamos um hábito proativo?"
Com
relação ao "diálogo com o mundo", Francisco disse que a igreja deve
abandonar uma "cultura de base rural", estática, para usar uma linguagem
que responda "às questões atuais do homem de hoje". "Por exemplo, em
uma mesma cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram
'diferentes cidades'."
O
papa enfatizou ainda a necessidade de incentivar uma maior participação
dos leigos na vida da igreja, investindo em sua formação.
Em
vários momentos, Francisco mencionou o Documento de Aparecida, aprovado
em 2007 pelos bispos latino-americanos e do qual foi relator, que dá
diretrizes para igreja da região nesta "mudança de tempo".
Papa
Francisco na Base Aérea do Galeão se prepara para deixar o Brasil após
sua participação na jornada Mundial da Juventude - Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Jornal Folha de S. Paulo
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